Não se discute mais a genialidade de Neymar com a bola nos pés. Os ranzinzas que ainda insistiam em dizer que ele não brilhava com a camisa do Barcelona com a mesma intensidade exibida com a camisa do Santos estão extintos. Além disso, o atacante, aos poucos, está perdendo a mania de simular faltas, o que lhe rendeu vaias exuberantes na sua chegada à Catalunha.
Mas ainda existe um comportamento que coloca em lados distintos os críticos e os que o admiram incondicionalmente: a provocação. Com 23 anos, Neymar ainda age como se toda a partida fosse uma disputa colegial. Se o lado bom disso é ter o poder de decisão em jogos importantes, o efeito colateral é ser hoje o jogador mais odiado na Espanha.
No jogo contra o Atlético de Madrid, que selou o título espanhol do Barça, Neymar passou o pé sobre a bola uma, duas, e teria passado mais se não tomasse o cartão amarelo e não fosse afrontado pelos colchoneros. O meia Gabi criticou abertamente a conduta e sugeriu que o brasileiro aprendesse a ser humilde como Xavi e Iniesta, duas lendas do Barcelona.
Na final da Copa do Rei, o episódio se repetiu. Já com o título garantido, Neymar tentou aplicar uma carretilha no zagueiro Bustinza, para revolta geral dos jogadores e da torcida do Athletic de Bilbao, maioria no Camp Nou. Mais confusão, dedo na cara e empurra-empurra.
A desaprovação não vem só do rival. Não se pode ignorar as falas de quem veste a mesma camisa. “Se eu fosse um jogador do Athletic, eu teria reagido da mesma forma, ou talvez de um jeito até pior. Na Espanha, isso é mal visto. No Brasil, há outro contexto, é mais comum”, disse Luis Henrique, técnico do Barcelona. Gerrard Piqué, o zagueiro que já venceu tudo dentro do clube, foi outro que deixou o recado: “Talvez Neymar não precisasse dar um espetáculo assim”.
Mas, aparentemente, Neymar tem essa necessidade. O exibicionismo que ignora o bom senso. E não parece inclinado a alterar esse comportamento. Diante das recentes polêmicas, disse que não mudará o seu estilo de jogo.
Mas aí é que a dúvida se torna obrigatória. O estilo de jogo que Neymar se refere acontece em uma situação específica: partida definida, título garantido, chance nula de reversão. E é aí que a provocação ganha ares de humilhação, deboche e, até mesmo, de“covardia técnica”, como classificou o jornalista Sérgio Xavier Filho, da Revista Placar.
Neymar claramente traz a provocação a campo como uma espécie de afronta. Não é um lance em que busca o gol ou um passe magistral. É basicamente o drible da desforra, como se naqueles poucos segundos a única coisa que importasse era mostrar ao mundo o poder de sua habilidade.
A carretilha de Neymar seria linda, se não fosse basicamente uma vaidade estúpida.